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quinta-feira, 31 de março de 2016

O porque de confiar na juventude do nosso país!

A política para mim é isso: não se trata de teorias e palavras bonitas soltas em grandes livros ou puramente debates intelectuais. Se trata de escolher se iremos contribuir para que uma senhora coloque ou não um pão a mais na mesa para seus filhos, para que tenhamos profissionais de qualidade no SUS, para que os professores sejam valorizados ...

Capa da Veja em 1998
Hoje vieram me perguntar porque em meio a essa bagunça toda do semestre eu perco meu tempo lendo, discutindo e participando dessas coisas de política.
É impossível não lembrar de minha primeira aula de política que foi na feira livre de Jacobina, quando um eu criança, nem lembro que idade tinha, provavelmente emputecido por ter que acordar muito cedo no sábado de manhã para acompanhar minha mãe à feira discutia com ela e dizia que achava jornal um saco e não queria saber de política. Ela, provavelmente já de saco cheio, reclamou comigo e mostrou os meninos que carregavam carrinhos de mão e recebiam um real por cada feira que levavam para casa. Ela me ensinou naquele dia que a política estava ligada à vida daqueles meninos. Aquilo me sensibilizou de tal maneira que até hoje guardo a recordação.
Aliado a isso, minha infância toda foi recheada das histórias da infância de meu pai, que ainda criança, por imperícia médica - vejam as ironias da vida: cá estou eu tentando ser médico hoje - virou órfão de mãe e foi obrigado a sair de casa para tentar sobreviver para não morrer de miséria e que, na única oportunidade em que teve dinheiro para comprar um presente de dia das mães para a sua própria, comprou uma caixa de sabão em pó, porque era a única coisa viável. Vejo ainda hoje em meu pai a criança que foi engraxate, trabalhou na mineração que mata dezenas de silicose e também foi retirante em São Paulo.
A capa da Veja que ilustra esse textão também mexe comigo. Da época em que na casa de meus pais ainda se assinava essa revista. Ela mexe comigo porque eu já estive nessa casa. Cresci passando minhas férias em casas como essas. Até hoje, se eu quiser sentar em um fogão como esse, basta eu visitar a mãe de minha mãe e qualquer uma das pessoas que vive no povoado onde ela reside ainda hoje - Vereda do Jacaré ou Curralinho. Também eu sou filho desse Nordeste que sofreu e passa fome, como meus pais, tios e avós passaram e sobreviveram.
Apesar da formação em ciências sociais, essas foram minhas principais aulas de política - elas me ensinaram de que lado da trincheira estou e por onde devo caminhar.
Obviamente, a vida é muito mais simples para mim e meus irmãos, não vivenciei a pobreza que eu sei que existe no mundo, nem nunca precisei fazer grandes sacrifícios para alcançar o que eu sei que é o objetivo de vida de muita gente que sonha viver com metade do conforto que vivo. Mas lembrar dessas situações e saber que elas existem e persistem me fazem compreender toda a existência humana como política.
A política, para além da disputa PSDB e PT, está ligada à vida de milhões de pessoas. Disputar a política é contribuir para que pessoas tenham ou não acesso a três refeições na mesa, um teto em sua cabeça e o mínimo de terra para plantar e viver. Se trata de contribuir para que crianças possam ir para a escola (com educação pública, laica e de qualidade) e não precisem se submeter à mendicância ou a trabalhos escravos e degradantes para que não morram de fome, no sentido mais literal da expressão. A política define os rumos das populações indígenas, dizimadas há 516 anos, e se elas conseguirão continuar existindo. Se negar a participar da vida política é negar os direitos, o respeito e a própria vida às mulheres, aos negros e às LGBT. Fazer de conta que nada está acontecendo hoje no Brasil é fechar os olhos a um ataque direto à nossa tão frágil e ainda tão jovem democracia.
Lembro que, no meio do processo de escrita da minha monografia em 2013, eu estava numa ocupação na prefeitura de Petrolina contra o aumento das tarifas de ônibus da cidade e uma senhora de parou e agradeceu falando "meu filho, obrigada por isso que vocês estão fazendo. Graças a vocês poderei colocar um pão a mais na mesa para meus filhos."
A política para mim é isso: não se trata de teorias e palavras bonitas soltas em grandes livros ou puramente debates intelectuais. Se trata de escolher se iremos contribuir para que uma senhora coloque ou não um pão a mais na mesa para seus filhos, para que tenhamos profissionais de qualidade no SUS, para que os professores sejam valorizados e essa lista poderia seguir por parágrafos... É preciso alterar a realidade na qual estamos inseridos e estamos todos, sem exceção, de um dos lados do muro. Não escolher já significa fazer uma opção.
Fato é que a essa responsabilidade jamais irei me furtar, como já bem disse Thiago de Mello: "Não se trata de escolher entre cegueira e traição. Mas entre ver e fazer de conta que nada vi ou dizer da dor que vejo para ajudá-la a ter fim, já faz tempo que escolhi.".

Com o final do semestre eu me arranjo e me entendo (e já tô indo estudar!).

Texto de Marcel Luiz estudante de medicina

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