Encontro Brasileiro de
Movimentos Populares em Dialogo com o Papa Francisco ocorreu entre os dias 1º e
4 de junho, em Mariana, Minas Gerais. Confira o documento final:
Nós, Movimentos Populares
e Pastorais Sociais reunidos em Mariana, Minas Gerais, em resposta ao chamando
do Papa Francisco para o diálogo com os que lutam por “terra, teto e trabalho”,
aqui viemos nos solidarizar com as famílias atingidas pelo maior crime
socioambiental provocado em 2015 pela mineração no Brasil e alimentar nossa
esperança na construção de outro mundo possível.
Povos indígenas,
quilombolas, pescadores, comunidades tradicionais, trabalhadores e
trabalhadoras do campo e da cidade, agentes das pastorais sociais compartilhamos
nossas experiências de lutas, dificuldades numa sociedade tão desigual.
Debatemos a opressão das forças do capital, a fragmentação e criminalização dos
movimentos sociais e as violências contra os pobres, negros, mulheres, jovens e
LGBTs. Aprofundamos nossa reflexão e partilha das formas de resistência e luta,
para enfrentar esses desafios.
Clamamos junto com a
Mãe-Terra, que o uso intensivo de agrotóxicos provoca a morte de nossos povos e
rios. Denunciamos que a concentração da propriedade e o estímulo ao agronegócio
geram conflitos e violências no campo e na cidade, por isso se tornam urgentes
e necessárias a Reforma Urbana e a Reforma Agrária.
Queremos o fim da
especulação imobiliária. Apesar dos avanços na política de moradia popular, a
carência por moradia cresce a cada ano. O avanço do capital nos territórios,
com estímulo ao extrativismo mineral, deixa um rastro de destruição ambiental,
do qual o crime na Bacia do Rio Doce, provocado pela Vale e BHP Billiton, por
meio da Samarco, com a conivência do Estado, é um dos exemplos mais
terríveis.
Neste momento de
trevas no país, o encontro brasileiro surge com uma luz. Nos últimos anos, o
modelo de desenvolvimentos adotado foi favorecido pelo contexto internacional,
possibilitou avanços e garantias de direitos sociais, mas muito lucro para o
capital. Com a crise do capitalismo mundial iniciada em 2008, este modelo
se esgotou. As forças do capital querem garantir seus interesses, mas nosso
povo vem resistindo. Tomaram o governo federal por meio de um golpe, com apoio
do Congresso Nacional e do Judiciário brasileiro, impondo o modelo neoliberal
derrotado por quatro vezes nas urnas.
Dizemos não às
privatizações propostas pelo governo interino e golpista, não ao desemprego e à
terceirização que ameaçam diretos dos trabalhadores e trabalhadoras. No Brasil,
a democracia sempre foi resultado da organização e da luta do povo. Uma vez
mais é preciso fortalecer a aliança das classes populares. Mais do que isto,
estamos desafiados a construir um novo projeto para o país. Projeto que além de
garantir terra, teto e trabalho para todos e todas, com justiça social, esteja
em sintonia com a Mãe-Terra.
Nós em diálogo com o
Papa Francisco, reafirmamos o que está na Encíclica Laudato Si’: “Não
há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e
complexa crise socioambiental. A solução requer uma abordagem integral para
combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente,
cuidar da natureza.”
Quem não luta, está morto!
Quem luta, educa.
Com nossa fé
revolucionária, fortalecemos nossa esperança na caminhada e a certeza na
chegada. É preciso lutar para derrotar o golpe no Brasil, por isso nos
comprometemos a ampliar as mobilizações, fortalecendo e diversificando os
trabalhos de base, o diálogo entre os movimentos e ocupando as ruas. A luta
imediata deve ser fermento no processo de construção de um projeto popular de
país.
Encerramos o
encontro no subdistrito de Paracatu de Baixo, com nossos pés na terra devastada
pela ganância do capital, e em diálogo com os atingidos reforçamos nossa
solidariedade e compromisso com a luta pela justiça, reparação e empoderamento
do povo da Bacia do Rio Doce.
Após estarmos
reunidos em Roma (2014), na Bolívia (em 2015), queremos convidá-lo a promover
em terras brasileiras o 3º Encontro Mundial dos Movimentos Populares em Diálogo
com o Papa Francisco, em outubro de 2017, em Minas Gerais. O convite é para
manter viva a memória e o nosso compromisso de “cuidar bem da nossa Mãe-Terra,
como Casa Comum de todos.
Ao som dos sinos de Mariana, ecoando a dor dos
Atingidos e atingidas, clamamos por Justiça!
Mariana, Minas Gerais , Brasil, 4 de junho de
2016.
Via: CPT- Comissão Pastoral da Terra
Via: CPT- Comissão Pastoral da Terra