Tristeza, indignação, revolta e nojo. Foi isso que nós, mulheres atingidas por barragens, sentimos ao ver o anúncio do adesivo misógino que utiliza a imagem da presidenta Dilma Rousseff.
O tal adesivo ofende não apenas à presidenta, mas sim a todas nós mulheres. Ele incita a violência contra as mulheres, ao considerar o estupro uma forma “bem humorada” de protesto político. Agride a todas nós por reforçar que nossos corpos são um objeto e de modo especial agride as mulheres que ousam fazer política – um espaço do qual historicamente somos impedidas de participar.
Nós, atingidas por barragens, sentimos na pele o que é sermos cotidianamente violentadas. Nas regiões onde moramos, nos defrontamos com o aumento da violência sexual e a prostituição, a desestruturação familiar e comunitária e uma série de outras violências que atingem especialmente as mulheres. Essas violações são decorrência do modelo energético adotado em nosso país, no qual a produção de energia é para aumentar as taxas de lucro do capital e não para o bem-estar do povo.
A violência contra a mulher, independente da forma, não tem nenhuma graça e deve ser combatida. No Brasil, os homens agridem uma mulher a cada 24 segundo e assassinam uma mulher a cada 90 minutos. Em grande parte dos casos, os culpados ficam impunes. As vítimas, por sua vez, são frequentemente culpabilizadas por terem “provocado” tais atos. Essa violência, sistemática em nossa sociedade patriarcal, é reforçada e naturalizada com gestos aparentemente banais como a venda desse adesivo a R$ 34 no Mercado Livre.
Não é coincidência que a criação desse adesivo se dê em um momento de crescente conservadorismo, retrocessos e ódio das classes dominantes em nosso país. A intolerância religiosa, a homofobia e a criminalização da juventude se dão com aval e incentivo dos meios de comunicação de massa, interessados em desestabilizar o país. O fundamentalismo ocupa o Congresso brasileiro. A Constituição é rasgada impunemente em manobras legislativas, como por exemplo, na aprovação da redução da maioridade penal.
A crise econômica do capital é transformada em crise política e as trabalhadoras e trabalhadores são os únicos a pagarem a conta com sucessivas perdas de direitos. Agora veio o “golpe de mestre”: o petróleo, o bem mais estratégico do povo brasileiro, está prestes a ser entregue ao imperialismo, através de um projeto relâmpago do senador tucano José Serra, e poucos parecem se dar conta disso. Todos esses fatos compõem um golpe imperialista que está sendo implementado a conta-gotas em nosso país.
Por todos esses motivos, nós mulheres organizadas no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) não vamos nos calar, nem nos deixar intimidar, nem perder a coragem de seguir lutando lado a lado com todas e todos que têm o compromisso em combater as injustiças de nossa sociedade. Nessa carta, mostramos nosso repúdio a este ato covarde e misógino e somamos nossas vozes àquelas que pedem que os autores dessa ofensa sejam punidos.
Não à violência contra as mulheres!
Mulheres, água e energia não são mercadorias!
Mulheres Atingidas por Barragens do Brasil