Com
o lema 'Este sistema é insuportável: Exclui, degrada, mata', evento chega ao
22º ano sob a tensão de um golpe que ameaça as conquistas sociais.
São
Paulo – A 22ª edição do Grito dos Excluídos, que vai ocorrer quarta-feira (7)
em várias cidades brasileiras, pretende convocar a população para resistir à
retirada de direitos sociais que se anunciam com a derrubada da presidenta
Dilma Rousseff, por decisão do Senado, ontem (31).
“Este
é um grito que deve alertar o povo sobre a gravidade da situação, a necessidade
de lutar. A crítica está sendo sufocada e ela tem de voltar às ruas. Essa é uma
ditadura disfarçada de democracia que quer passar sobre o povo”, afirmou o
economista Plínio de Arruda Sampaio Júnior.
Para
o economista, o momento brasileiro não difere do que ocorre no mundo, em que a
crise obriga os poderes econômico e político a reorganizar o sistema
capitalista, “ampliando a exploração dos trabalhadores”. É nesse contexto que o
economista avalia a deposição da presidenta, ressaltando que o Grito dos
Excluídos deve estar “acima da disputa partidária, buscando uma revolução
democrática e reformas estruturais que não foram realizadas por nenhum governo
até agora”.
“O
grito chega em um momento trágico. No dia 7, a parada cívica vai ser conduzida
por um presidente ilegítimo, um usurpador. E quem está sendo usurpado é o povo,
que disse não ao ajuste fiscal e a qualquer perda de direitos nas eleições. Querem
reduzir as políticas sociais para dar mais dinheiro aos rentistas”, avaliou
Plínio de Arruda Sampaio Júnior.
O
lema deste ano do Grito dos Excluídos está baseado na fala do Papa Francisco,
em encontro com movimentos sociais na Bolívia, no ano passado: “Este sistema é
insuportável: Exclui, degrada, mata”. A frase trata dos problemas sociais e
ambientais do modelo capitalista de produção.
Durante
toda a próxima semana vão ocorrer atividades referentes ao evento, em
centenas de cidades de 24 estados, pelo Brasil. Em São Paulo, o Grito dos
Excluídos vai se reunir quarta-feira na Praça da Sé, no centro da capital, a
partir das 9h. E às 10h será realizada uma marcha pelo centro.
O
bispo da Diocese de Barretos, Dom Milton Kenan Júnior, ressaltou que é preciso
estar “unido ao povo na reconquista de seus direitos”. Ele disse que sempre foi
entusiasta da Operação Lava Jato e defendia que era preciso pôr fim ao governo
petista, pautado nas denúncias de corrupção. Porém, ele agora teme que a
deposição de Dilma ponha em risco a soberania popular e os direitos sociais.
“Há
algumas semanas me chamaram atenção para a criminalização dos movimentos
sociais, com gente sendo presa sem cometer crime algum. Quando a gente se dá
conta das Propostas de Emenda à Constituição (PECs) encaminhadas pelo novo
governo, reduzindo gastos sociais, além de ações para tirar da Justiça o poder
de implementação da Lei da Ficha Limpa e entregar aos Legislativos. O desafio
da igreja hoje é ajudar o povo a perceber os riscos que correm e se organizar
para retomar lutas de 30 anos atrás”, disse o bispo.
O
tema principal do grito, ano após ano, tem sido a defesa da vida. Nesta edição,
procura-se evidenciar a defesa da “vida em primeiro lugar”. “Nos preparamos
para um momento difícil de enfrentamento com um sistema que põe a vida em
último lugar”, ressaltou Soniamara Maranhão, militante do Movimento dos
Atingidos por Barragens (MAB). Segundo ela, o objetivo do Grito dos Excluídos
segue sendo construir um projeto popular de país, sobretudo “para enfrentar os
golpes que ainda virão”.
Ela
avalia que o golpe consolidado ontem vai levar a perdas de direitos históricos
da população, ampliando os excluídos. Além disso, o novo governo já anunciou a
intenção de privatizar estatais e bens públicos, assim como realizar reformas
na Previdência social e na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que não vão
beneficiar a população.
Questionado
sobre a violenta repressão policial que tem ocorrido contra os movimentos
sociais críticos à derrubada da presidenta Dilma, o coordenador nacional do
Grito Ari Alberti ponderou que a repressão não é novidade e ocorreu em edições
anteriores do evento. Considerou grave, no entanto, a forma como Temer
expressou que vai tratar os críticos do golpe e de seu governo. “Ele deixou
claro que não vai deixar barato. Mas o que vamos fazer? Não podemos ficar em
casa esperando algo mudar”, disse e chamou a imprensa à responsabilidade,
pedindo que “exponha fatos e não versões”.
“A
maior defesa que a gente tem é o povo na rua. Eles radicalizaram no ataque à
democracia, nós temos que radicalizar na defesa da democracia”, disse Plínio de
Arruda Sampaio Júnior.
Fonte: Rede Brasil Atual
Fonte: Rede Brasil Atual