“Pois
eu sei como são numerosos seus crimes e graves os seus pecados: exploram o
justo, aceitam subornos e enganam os necessitados junto à porta.
Odeiem
o mal e amem o bem; restabeleçam o direito junto à porta”
(Amós
5, 12. 15a)
A
Pastoral da Juventude nasceu democrática num país sem democracia. Os idos dos
anos 70 ainda eram marcados pela tortura e autoritarismo que vitimaram tantos
sonhadores e sonhadoras. Somos filhos e filhas da JAC, JEC, JIC, JOC E JUC.
Somos filhos e filhas da revolução do amor e da comunhão evangélica das
Comunidades Eclesiais de Base e da Teologia da Libertação. E, neste sentido,
não podemos negar o sangue derramado pelos e pelas que nos precederam. A eles e
elas tributamos: continuamos ao lado da Democracia!
Este
foi o grito dado em resposta aos atentados às conquistas democráticas e das
minorias de nosso país, reforçado no dia 18 de março de 2016 quando a
Coordenação Nacional da PJ lançou nota em favor da democracia, em virtude do
contexto turbulento de crise política e do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Este processo findou hoje, fatídico 31 de agosto, culminando com a saída da
presidenta eleita democraticamente e a ascensão de um grupo usurpador ao poder.
Queremos
desta forma, com os corações feridos, dizer: a PASTORAL DA JUVENTUDE NACIONAL
NÃO RECONHECE O GOVERNO QUE SE INSTAURA NA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
Consideramos que o processo de impeachment representa um golpe
parlamentar, jurídico e midiático. Ele leva ao poder um grupo político que não
coaduna com o projeto vencedor nas urnas no pleito eleitoral de 2014.
Este
grupo é o retrato histórico de uma elite conservadora e que sempre se associou
aos ideais liberais de entreguismo do continente latino americano. Ela ameaça
as conquistas populares recentes, flertando com políticas privatistas e corte
de direitos.
Ressaltamos
que nosso posicionamento não visa a defesa de nenhum governo, tampouco de
nenhum partido, mas sim do Estado Democrático de Direito e, especialmente, das
garantias constitucionais ameaçadas pelo grupo ministerial que assumiu
recentemente o país.
Denunciamos,
desta forma, a postura autoritária do governo golpista e rechaçamos o desmonte
já iniciado com relação às políticas públicas e sociais, especialmente às
nossas bandeiras históricas das Políticas Públicas de Juventude. Não
reconhecemos nenhum membro deste grupo, uma vez que eles representam retrocesso
e praticam um atentado às conquistas democráticas de nosso país. Por não reconhecer,
também não faremos nenhum diálogo com qualquer que seja o ministério ou
secretaria ligada a esse governo.
Seguiremos
firmes com os movimentos populares e juvenis, entidades, grupos e associações
que se colocam nas ruas para o reestabelecimento da Democracia, hoje duramente
golpeada. Prezamos a pluralidade de ideias, o compromisso com a vida das
Juventudes e o projeto de um país mais igualitário, humano e justo; e juntos e
juntas queremos zelar por essas lutas.
Conclamamos
os grupos de base de todo país a rezarem o momento político e se inspirarem na
Palavra, que oferece resistência, resiliência e luz para dias difíceis. Não
deixemos cair a profecia e nem a coragem de mudar. Vamos semear o amor e lutar
por justiça!
Que
a força do discipulado seja nosso elo de união: não nos calaremos!
“Chora
a nossa Pátria mãe gentil
Choram
Marias e Clarisses
No
solo do Brasil”
(O
bêbado e a equilibrista – Elis Regina)
São Paulo/SP, 31 de agosto de 2016.