A Câmara Federal pode aprovar o projeto de lei
4.330 que facilita a terceirização e a subcontratação do trabalho. Descubra
como a medida pode afetar seu dia-a-dia
Por Piero Locatelli, da Repórter Brasil
O número de trabalhadores terceirizados deve
aumentar caso o Congresso aprove o Projeto de Lei 4.330. A nova lei abre as portas para que as
empresas possam subcontratar todos os seus serviços. Hoje, somente atividades
secundárias podem ser delegadas a outras empresas, como, por exemplo, a limpeza
e manutenção de máquinas.
Entidades de trabalhadores, auditores fiscais, procuradores do trabalho e juízes trabalhistas acreditam que o projeto é nocivo aos trabalhadores e à sociedade. Nesta terça-feira 7, a polícia reprimiu um protesto das centrais sindicais contra o projeto, em frente ao Congresso Nacional.
Descubra por que você deve se preocupar com a mudança:
Entidades de trabalhadores, auditores fiscais, procuradores do trabalho e juízes trabalhistas acreditam que o projeto é nocivo aos trabalhadores e à sociedade. Nesta terça-feira 7, a polícia reprimiu um protesto das centrais sindicais contra o projeto, em frente ao Congresso Nacional.
Descubra por que você deve se preocupar com a mudança:
1- Salários e benefícios devem ser cortados
O salário de trabalhadores terceirizados é 24%
menor do que o dos empregados formais, segundo o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos(Dieese).
No setor bancário, a diferença é ainda maior: eles
ganham em média um terço do salário dos contratados. Segundo o Sindicato dos
Bancários de São Paulo, eles não têm participação nos lucros, auxílio-creche e
jornada de seis horas.
2- Número de empregos pode cair
Terceirizados trabalham, em média, três horas a
mais por semana do que contratados diretamente. Com mais gente fazendo jornadas
maiores, deve cair o número de vagas em todos os setores.
Se o processo fosse inverso e os terceirizados
passassem a trabalhar o mesmo número de horas que os contratados, seriam
criadas 882.959 novas vagas, segundo o Dieese.
3- Risco de acidente deve aumentar
Os terceirizados são os empregados que mais sofrem
acidentes. Na Petrobras, mais de 80% dos mortos em serviço entre 1995 e 2013
eram subcontratados. A segurança é prejudicada porque companhias de menor porte
não têm as mesmas condições tecnológicas e econômicas. Além disso, elas recebem
menos cobrança para manter um padrão equivalente ao seu porte.
4 - O preconceito no trabalho pode crescer
A maior ocorrência de denúncias de discriminação
está em setores onde há mais terceirizados, como os de limpeza e vigilância,
segundo relatório da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Com refeitórios,
vestiários e uniformes que os diferenciam, incentiva-se a percepção
discriminatória de que são trabalhadores de “segunda classe”.
5- Negociação com patrão ficará mais difícil
Terceirizados que trabalham em um mesmo local têm
patrões diferentes e são representados por sindicatos de setores distintos.
Essa divisão afeta a capacidade de eles pressionarem por benefícios. Isolados,
terão mais dificuldades de negociar de forma conjunta ou de fazer ações, como
greves.
6- Casos de trabalho escravo podem se multiplicar
A mão de obra terceirizada é usada para tentar
fugir das responsabilidades trabalhistas. Entre 2010 e 2014, cerca de 90% dos
trabalhadores resgatados nos dez maiores flagrantes de trabalho escravo
contemporâneo eram terceirizados, conforme dados do Ministério do Trabalho e
Emprego. Casos como esses já acontecem em setores como mineração, confecções e
manutenção elétrica.
7- Maus empregadores sairão impunes
Com a nova lei, ficará mais difícil responsabilizar
empregadores que desrespeitam os direitos trabalhistas, porque a relação entre a
empresa principal e o funcionário terceirizado fica mais distante e difícil de
ser comprovada. Em dezembro do último ano, o Tribunal Superior do Trabalho
tinha 15.082 processos sobre terceirização na fila para serem julgados, e a
perspectiva dos juízes é de que esse número aumente. Isso porque é mais difícil
provar a responsabilidade dos empregadores sobre lesões a terceirizados.
8- Haverá mais facilidades para corrupção
Casos de corrupção como o do bicheiro Carlos
Cachoeira e do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda envolviam
a terceirização de serviços públicos. Em diversos casos menores, contratos
fraudulentos de terceirização também foram usados para desviar dinheiro do
Estado. Para o procurador do trabalho Rafael Gomes, a nova lei libera a
corrupção nas terceirizações do setor público. A saúde e a educação públicas
perdem dinheiro com isso.
9- Estado terá menos arrecadação e mais gastos
Empresas menores pagam menos impostos. Como o
trabalho terceirizado transfere funcionários para empresas menores, isso
diminuiria a arrecadação do Estado. Ao mesmo tempo, a ampliação da
terceirização deve provocar uma sobrecarga adicional ao Sistema Único de Saúde
(SUS) e ao INSS. Segundo juízes do TST, isso acontece porque os trabalhadores
terceirizados são vítimas de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais com
mais frequência, o que gera gastos ao setor público.
Fontes: Relatórios e
pareceres da Procuradoria Geral da República (PGR), da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos e de juízes do Tribunal Superior do Trabalho. Entrevistas com o
auditor fiscal Renato Bignami e o procurador do trabalho Rafael Gomes
Fonte: Carta Capital