Após confusão na
entrada do anexo 2 da Câmara dos Deputados durante a manhã desta terça-feira
(16/12), seis indígenas – David Martim Guarani, Cleriston Tupinambá, Tucuri
Santos Pataxó Alessandro Terena, Claudenir Terena e Idalino Kaingand – foram
detidos acusados de terem ferido policiais militares. As prisões foi feita
horas depois dos acontecimentos da manhã, em uma ação arbitrária que
identificou aleatoriamente os indígenas como agressores. Os indígenas aguardam
no Departamento de Polícia Especializada da Polícia Civil do DF para serem
ouvidos pelo delegado responsável.
Na parte da
manhã cerca de 80 indígenas se manifestavam pacificamente quando foram avisados
da possibilidade de que ocorresse a votação do relatório da Comissão Especial
da PEC 215. Na tentativa de entrar na Câmara, duas mulheres indígenas foram
agredidas por policiais militares, dando início a confusão. Na dispersão, os
relatos dos indígenas são de agressões e uso de gás de pimenta por parte dos
policiais.
Logo após a
confusão chegou a confirmação de que a reunião que votaria o relatório da PEC
215 havia sido cancelada. O deputado Afonso Florence, presidente da Comissão
Especial da PEC 215, foi pessoalmente anunciar que indeferiu o pedido para que
a reunião acontecesse. “Essa PEC não é aprovada pela maioria do povo
brasileiro, não convém aos povos indígenas e com a minha presidência, não será
aprovada no final do ano atropelando o regimento”, disse Florence. Apesar do
posicionamento público de Florence, o presidente da Câmara dos Deputados,
Henrique Alves, afirmou hoje à noite durante plenária que a reunião da PEC
entraria em pauta desta quarta-feira
(17/12) ainda sem horário previsto.
Junto com outros
deputados, Florence anunciou ainda uma reunião marcada também para a tarde
desta terça com a presença do ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso,
lideranças indígenas e deputados que atuam na causa. Foi justamente quando se
deslocavam para o Ministério da Justiça que os índios foram surpreendidos com a
ação arbitrária da Polícia Militar que resultou nas prisões de quatro
indígenas.
Quando tentou
registrar a ação da Polícia Militar, o assessor de comunicação do CTI teve seu
aparelho celular apreendido. Os policiais apontaram armas enquanto dirigiam
ofensas aos indígenas. Os camburões foram fechados com pontapés dos policiais
que gritavam ofensas e impediam quem tentasse fazer registro de imagens. Os
indígenas detidos relataram que dentro das viaturas um dos policiais usou spray
de pimenta, sufocando os quatro indígenas que se amontoavam no mesmo espaço.
“Ficamos o tempo
todo na porta da Câmara, quando saímos de lá fomos surpreendidos com carros da
PM. Aí Já foram puxando os indígenas e jogando as lideranças no carro. Chutaram
nosso cocar e nos xingaram. Disseram que iríamos pagar pelo suposto ferimento
de alguns policiais. É triste presenciarmos isso sem sabermos o real motivo. É
um grande esquema para sujar nossa imagem”, afirma a liderança Nilton Pataxó,
presente no momento da prisão dos quatro indígenas.
Mais tarde, ao
voltar da mobilização, dois ônibus que transportavam os indígenas foram parados
pela Polícia Militar, que prendeu mais duas lideranças. A prisão dos indígenas
não é um caso isolado, mas resultado de um processo de criminalização dos povos
que lutam pela demarcação de seus territórios tradicionais.