O
país amanheceu sob a sombra de mais um golpe contra a democracia e contra o
povo brasileiro. O dia 31 de agosto de 2016 entrará para a história como o dia
em que, diante dos olhos de todas e todos, 61 senadores se alçaram ao direito
de substituir os votos de mais de 54 milhões de brasileiros em prol de
interesses alheios à nação.
Como afirmou a presidente Dilma o senado,
escolheram rasgar a constituição Brasileira, colocando em risco o pacto
democrático vigente desde a constituinte de 1988.
Nossa
tarefa imediata é transformar a tristeza e indignação de nosso povo em rebeldia
ativa nas ruas, organizar e planejar a resistência. O povo brasileiro aprendeu
preciosas lições nesses meses de luta contra o golpe.
Nossa
classe dominante não nutre nenhuma identidade com nosso povo e despreza a
soberania popular. Não admite a participação da classe trabalhadora na
política. Ainda que o Governo Dilma não colocasse em cheque nossas elites, ele
representou melhores condições de luta e participação das classes subalternas.
O um golpe contra as conquistas populares e contra o direito de lutar.
Aprendemos
que o monopólio da mídia, representado pela Rede Globo, é uma ameaça à
democracia, atuando como agente organizador e manipulador da opinião pública
por meio da distorção no tratamento da informação. É esta mídia que incentiva a
cada minuto o conservadorismo e o fascismo contra os trabalhadores.
O discurso
da grande mídia visa, assim, incentivar o ódio nos setores médios e legitimar a
criminalização dos diversos atores que representam a diversidade do povo
brasileiro, feito de mulheres em luta contra o machismo, de negros e
negras rebeldes, de militantes LGBTs em luta pelo direito de amar.
Que
nosso maior inimigo segue sendo o imperialismo norte-americano e seus agentes
internos. A restauração neoliberal se sustenta em destruir o que restou da
capacidade do Estado nacional em planejar o desenvolvimento econômico nacional
de forma soberana. Esse alinhamento faz parte da estratégia estadunidense de
reocupar o território Latino Americano, ampliando as margens de lucro das
grandes corporações para resolver a crise capitalista mundial.
Dessa
forma, nos solidarizamos com a Presidenta Dilma que em sua postura altiva e
corajosa, enfrentou o golpismo olho no olho, denunciou os algozes da Pátria e
se colocou ao lado do povo o convocando às ruas "contra o retrocesso,
contra a agenda conservadora, contra a extinção de direitos, pela soberania
nacional e pelo restabelecimento pleno da democracia".
O
chamado foi atendido. O sentimento de repulsa e indignação se transformou em
ação nas ruas que se pintaram de vermelho, verde e amarelo em solidariedade à
presidenta Dilma, em defesa dos direitos ameaçados e da revogação do governo
ilegítimo de Michel Temer.
A
experiência do golpe revela os limites da democracia formal e retoma a memória
da luta contra a ditadura, das grandes e históricas mobilizações populares
pelas eleições diretas, da luta pelas Reformas de base, de todo o movimento
democrático e popular e de suas conquistas, ainda que limitadas, na construção
da Constituinte de 88.
E demonstra também a necessidade de organizar-se não
apenas para garantir o retorno à democracia, mas para aprofundá-la superando de
uma vez por todas o sistema político herdado da ditadura que agora mostra a
quem segue servindo.
Não
é o momento do desânimo ou da dispersão. Sofremos uma derrota no interior do
sistema de poder que nos oprime, mas o fim deste período inaugura uma longa e
difícil estrada de luta para a sua derrubada. Mesmo aqueles que até há pouco se
mostravam apáticos, dia após dia demonstram que não se sentem representados
pela farsa, nem pelos atores que a encenaram.
O Brasil atual rompeu a
democracia e não possui um governo legitimado pelo seu povo. É hora de
organizar a rebeldia e fazê-la crescer em cada canto denunciando o golpe e
propondo a refundação do Estado brasileiro através da participação popular, com
uma nova constituinte verdadeiramente soberana. O mais importante agora é
organizar o sentimento de indignação em torno da unidade conquistada pela
esquerda brasileira, particularmente na Frente Brasil Popular e convocar toda a
população para o grande dia nacional de luta pela democracia, no próximo 7 de
Setembro.
Florestan
Fernandes, no texto A percepção popular da Assembleia Nacional
Constituinte, escrevia em 1988 palavras que, diante do monumental
cinismo de nossa burguesia, retomam nos dias que seguem toda sua atualidade
como guia para a ação:
O protesto sobe à tona ameaçador, carregando
uma mensagem que diz
taxativamente "não!" e "basta!", em
vários tons. Estamos sendo julgados, não estamos julgando. Uma ANC que se
curvou à prepotência do sistema de poder existente e, por sua maioria
conservadora, representa não o poder originário e soberano do povo, mas os
particularismos das classes privilegiadas e as ambições das nações capitalistas
hegemônicas, tem muito o que aprender e o que temer diante dos ressentimentos e
frustrações da massa subalterna dos cidadãos.
Ambos, ressentimentos e
frustrações, acarretam violência e agressão. Seria melhor receber o recado e
mudar o estilo de produção constitucional. Há grosserias que são
detestáveis, mas possuem raízes históricas pelas quais passado e presente se
ligam à construção do futuro. E a nação, nesses estratos, só quer socialmente
uma coisa: uma revolução democrática irreversível.
Pátria
Livre! Venceremos!
Somos
a Consulta Popular!