Mais ricos representam 71
mil pessoas (0,05% da população adulta brasileira) e se beneficiam de isenções
de impostos sobre lucros e dividendos, uma de suas principais fontes de renda.
Entre os países da OCDE, além do Brasil somente a Estônia oferece esse tipo de
isenção tributária ao topo da pirâmide.
Enquanto a maioria dos países da OCDE está aumentando a taxação sobre os mais ricos, no Brasil nenhuma reforma de fôlego foi realizada nos últimos 30 anos. Foto: Wikimedia Commons / chensiyuan (CC) |
Os
brasileiros super-ricos pagam menos imposto, na proporção da sua renda, que um
cidadão típico de classe média alta, sobretudo assalariado, o que viola o princípio
da progressividade tributária, segundo o qual o nível de tributação deve
crescer com a renda.
Essa
é uma das conclusões de artigo publicado em dezembro pelo Centro Internacional
de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG), vinculado ao Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD).
O
estudo, que analisou dados de Imposto de Renda referentes ao período de 2007 a
2013, mostrou que os brasileiros “super-ricos” do topo da pirâmide social somam
aproximadamente 71 mil pessoas (0,05% da população adulta), que ganharam, em
média, 4,1 milhões de reais em 2013.
De
acordo com o levantamento, esses brasileiros pagam menos imposto, na proporção
de sua renda, que um cidadão de classe média alta. Isso porque cerca de dois
terços da renda dos super-ricos está isenta de qualquer incidência tributária,
proporção superior a qualquer outra faixa de rendimento.
“O
resultado é que a alíquota efetiva média paga pelos super-ricos chega a apenas
7%, enquanto a média nos estratos intermediários dos declarantes do imposto de
renda chega a 12%”, disseram os autores do artigo, Sérgio Gobetti e Rodrigo
Orair, que também são pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA).
Essa
distorção deve-se, principalmente, a uma peculiaridade da legislação
brasileira: a isenção de lucros e dividendos distribuídos pelas empresas a seus
sócios e acionistas. Dos 71 mil brasileiros super-ricos, cerca de 50 mil
receberam dividendos em 2013 e não pagaram qualquer imposto por eles.
Além
disso, esses super-ricos beneficiam-se da baixa tributação sobre ganhos
financeiros, que no Brasil varia entre 15% e 20%, enquanto os salários dos
trabalhadores estão sujeitos a um imposto progressivo, cuja alíquota máxima de
27,5% atinge níveis muito moderados de renda (acima de 4,7 mil reais, em 2015).
“Os
dados revelam que o Brasil é um país de extrema desigualdade e também um
paraíso tributário para os super-ricos, combinando baixo nível de tributação
sobre aplicações financeiras, uma das mais elevadas taxas de juros do mundo e
uma prática pouco comum de isentar a distribuição de dividendos de imposto de
renda na pessoa física”, disseram os pesquisadores.
A
justificativa para tal isenção é evitar que o lucro, já tributado na empresa,
seja novamente taxado quando se converte em renda pessoal. No entanto, essa não
é uma prática frequente em outros países do mundo.
“Entre
os 34 países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico), que reúne economias desenvolvidas e algumas em desenvolvimento,
apenas três isentavam os dividendos até 2010”, disseram os pesquisadores, citando
México, Eslováquia e Estônia.
Contudo,
o México retomou a taxação em 2014 e a Eslováquia instituiu em 2011 uma
contribuição social para financiar a saúde. Restou somente a Estônia, pequeno
país que adotou uma das reformas pró-mercado mais radicais do mundo após o fim
do domínio soviético nos anos 1990 e que, como o Brasil, dá isenção tributária
à principal fonte de renda dos mais ricos.
Em
média, a tributação total do lucro (somando pessoa jurídica e pessoa física)
chega a 48% nos países da OCDE (sendo 64% na França, 48% na Alemanha e 57% nos
Estados Unidos). No Brasil, com as isenções de dividendos e outros benefícios
tributários, essa taxa cai abaixo de 30%.
Além
disso, o estudo concluiu que o Brasil possui uma elevada carga tributária para
os padrões das economias em desenvolvimento, por volta de 34% do Produto
Interno Bruto (PIB), equivalente à média dos países da OCDE.
Mas,
diferentemente desses países — nos quais a parcela da tributação que recai
sobre bens e serviços é residual, cerca de um terço do total, e há maior peso
da tributação sobre renda e patrimônio — cerca de metade da carga brasileira
provém de tributos sobre bens e serviços, o que, proporcionalmente, oneram mais
a renda dos mais pobres.
“Enquanto
o avanço conservador está sendo parcialmente revertido na maioria dos países da
OCDE, que estão aumentando a taxação sobre os mais ricos, inclusive os
dividendos (…); no Brasil, nenhuma reforma de fôlego com o objetivo de ampliar
a progressividade do sistema tributário foi realizada nos últimos 30 anos de
democracia, dos quais 12 anos sob o governo de centro-esquerda do Partido dos
Trabalhadores (PT)”, disseram os pesquisadores, acrescentando que a agenda da
progressividade tributária é um dos grandes desafios do país na
atualidade.
Fonte: ONUBR
Artigo completo em:
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http://www.ipc-undp.org