Segundo denúncia realizada
junto ao Ministério Público Federal (MPF), na manhã do último dia 7, um jovem
Kaiowá de 17 anos foi sequestrado por um grupo armado, nas imediações de
Naviraí (MS), e submetido a sessões de tortura – espancamentos e pressão
psicológica. O indígena vive em acampamentos que compõem a Terra Indígena
Santiago Kue, localizados às margens da BR-163, trecho que liga as cidades de
Juti e Naviraí.
Tal contexto reforça a existência de milícias
armadas com intuito de atacar comunidades indígenas e suas lideranças. Não é a
primeira vez que tais indícios reforçam algo que já não é mais uma tese, mas
possui elementos concretos.O histórico de violência contra as aldeias do entorno de Naviraí evidencia que o atentado não foi por acaso, e nem se tratou de uma ação isolada. Pelo contrário, é infelizmente uma ação padrão de jagunços contratados pelos fazendeiros da região. Tudo indica que existe de fato um grupo que há tempos está constituído como uma milícia armada e que tem rondado a região para impedir o avanço dos indígenas na retomada de seu território tradicional.
Em meados de 2013, começou
a circular de forma aberta e pública a informação sobre a realização dos
“Leilões da Resistência”, organizado por fazendeiros e sindicatos rurais do
Estado do Mato Grosso do Sul. Os organizadores anunciavam orgulhosos que os
fundos arrecadados com a venda de gado seriam utilizados para a contratação de
segurança privada e compra de armamentos. A Justiça entendeu o leilão como uma
forma de injetar recursos em formação de milícia.
A revoltante iniciativa
gerou uma onda de denúncias e de grande mobilização por parte do movimento
indígena e de seus apoiadores. Por decisão judicial, a realização do leilão foi
impedida. A despeito da decisão, os fazendeiros o realizaram. Todavia, a
decisão foi a de que o montante arrecadado, cerca de 1 milhão de reais, fosse
depositado em juízo e com a utilização vinculada a aprovação das comunidades
indígenas.
Pode-se dizer que esta
fundamental medida conseguiu brecar a face pública da formação das milícias
anti-indígenas, porém trata-se de um ledo engano acreditar que a Justiça
conseguiu impedir que na prática, no submundo das ações criminosas, os
fazendeiros e ruralistas, dotados de grandes poder econômico, oriundos,
sobretudo, da exploração ilegal das terras indígenas, continuem com a
arregimentação de jagunços para consolidar a expulsão dos povos originários dos
seus territórios tradicionais por meio da força. Chamam a isso de
segurança privada.
O caso ocorrido em
Santiago Kue é uma boa demonstração de que as milícias continuam sendo formadas
e patrocinadas pelos senhores do agronegócio. Conforme apuração da Procuradoria
Geral da República (PGR) de Ponta Porã, o assassinato de Nísio Gomes Guarani
Kaiowá se deu sob tais circunstâncias. Sob a roupagem de seguranças privados,
os fazendeiros continuam organizados. Soma-se a isso a política do governo
federal de paralisação das terras indígenas e a intenção da mudança do
procedimento de demarcação. Dessa forma, sentem-se os inimigos dos povos
indígenas livres para praticar verdadeiros absurdos contra a vida, o bom senso,
a Justiça, a democracia e o Estado Democrático de Direito.
Como tudo indica, nas bordas de Naviraí, uma
destas milícias armadas domina geograficamente a região habitada secularmente
pelo povo Kaiowá, e de onde estes jamais sairão. Praticam abertamente o terror
impedindo os indígenas até mesmo de exercerem o direito de ir e vir.Veja mais em : CPT- Comissão Pastoral da Terra
Adaptado por: Cicero Do Carmo