Dilma Rousseff,
que prometeu fazer da educação a prioridade de seu governo, impingiu ao país um
ajuste fiscal que resultou no corte orçamentário do MEC.

Nesta segunda (23), cerca de 500
professores universitários de todo o país se reúnem em Brasília para discutir
os rumos da educação brasileira, no 34º Congresso do Sindicato Nacional dos
Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), a principal entidade
representativa da categoria, que reúne profissionais das redes pública e
privada.
O evento cresce em importância porque ocorre no momento no qual se inicia o
segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff, que prometeu fazer da educação a
prioridade do seu novo governo, mas, ao mesmo tempo, impingiu ao país um ajuste
fiscal que resultou, entre outras coisas, no corte orçamentário do Ministério
da Educação (MEC) e na retirada de direitos dos trabalhadores.
Para o presidente do Andes-SN, Paulo Rizzo, um dos principais objetivos deste
Congresso será avaliar a nova conjuntura para, a partir daí, definir o plano de
lutas da categoria. “Nós estamos frente a um ajuste fiscal rigoroso, aplicado
com ataques aos direitos dos trabalhadores, como é o caso da medida provisória
que aumenta o prazo para acesso ao seguro desemprego, e com contingenciamento
de recursos públicos, inclusive para as universidades. De todos os ministérios,
o MEC foi o que sofreu o maior corte”, afirmou.
Crise chega às universidades federais
De acordo com ele, as universidades públicas federais, em especial, já
terminaram 2014 com graves problemas de financiamento, anunciando o grave
contingenciamento que viria este ano. “Vivemos uma situação de muita
dificuldade para o próprio funcionamento das universidades, porque o corte
orçamentário está afetando os serviços terceirizados, que são pagos com verbas
de custeio, exatamente as que sofreram o contingenciamento”, esclarece.
O professor explica que o não pagamento das empresas terceirizadas ameaça
serviços essenciais ao funcionamento dos campi, como segurança, limpeza,
transporte e alimentação. “As universidades não estão conseguindo pagar as
empresas terceirizadas, o que nos coloca frente a uma possibilidade real de
paralisação de algumas atividades. Na Universidade Federal Fluminense (UFF),
por exemplo, os salários dos terceirizados já atrasaram”, acrescenta.
Rizzo explica que as instituições federais de ensino superior, hoje, dependem
muito dos serviços terceirizados porque, ao longo das últimas décadas, foram
abrindo mão de gerir várias das atividades necessárias ao seu funcionamento, no
contexto da privatização da educação, e, com isso, acabaram perdendo o controle
que tinha sobre elas. “Durante o Congresso, vamos aprofundar a discussão sobre
os efeitos da terceirização, que prejudica não só as universidades como vários
outros serviços prestados pelo Estado”, ressalta.
Em relação à questão docente, o presidente do Andes-SN alega que os professores
das universidades federais ainda sofrem os efeitos do Reuni, o programa de
expansão das universidades implementado no governo do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. “Com a expansão, há uma precariedade muito grande nas
universidades, seja física, seja de pessoal. O Reuni exige sempre novos
investimentos, a cada ano requer mais contratações para suprir a demanda dos
novos cursos criados, mas não está tendo as contratações necessárias”,
justifica.
Campanha salarial unificada
Na quarta (25), em conjunto com as demais categorias dos servidores públicos
federais, os docentes das universidades federais lançam a campanha salarial
2015, em ato unificado em frente ao Ministério do Planejamento, a partir das 9
horas. O protesto está sendo convocado pelo Fórum Nacional de Servidores
Públicos Federais, que reúne 32 entidades representativas das várias
categorias.
Rizzo afirma que os professores sofrem com a defasagem nos salários, agravada
pela volta da inflação. “Com os cortes orçamentários, não há perspectivas de
reajuste salarial feita por parte do governo. E a inflação esta aí. Os últimos
reajustes, inclusive o que vamos receber uma parcela este mês, não repôs a
inflação que irá continuar até ano que vem. E até mesmo para termos alguma
coisa em 2016, a previsão tem que entrar no projeto de Lei Orçamentária até
agosto deste ano. Vamos ter que mobilizar porque senão não vai ter negociação”,
avalia.
Segundo ele, o contexto exige uma mobilização urgente dos servidores públicos
federais para que tenham força suficiente para convencer o governo a negociar a
tempo de garantir ganhos para 2016. Na pauta de reivindicações unificada, eles
pedem reajuste linear de 27,3%, data-base em 1 de maio, direito de
negociação coletiva, conforme previsto na Convenção 151 e paridade salarial
entre ativos e aposentados, entre outros pontos.
Hospitais universitários
Na pauta do 34º congresso do Andes-SN também consta a polêmica discussão sobre
a melhor forma de gestão e controle dos hospitais universitários, que se
prestam tanto ao ensino das áreas de saúde quanto ao atendimento de pacientes
das redes pública e privada. Para o Sindicato Ncional, a gestão dessas
instituições de saúde deve ser feita pelas universidades, que melhor percebem
seu caráter múltiplo.
Já o governo Dilma propõe um outro modelo, por meio da adesão dos
universitários à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), criada
em 2011 para geri-los. “Com a Ebesrh, os servidores não são mais contratados
pelas universidades, que perdem também o controle de gestão dos hospitais. Com
isso, é grande a dificuldade para fazer com que cumpram seu papel de hospital
escola”, explica Rizzo.
De acordo com ele, no dia 6 de março, o Andes-SN promoverá um ato público na
capital do Rio de Janeiro contra a empresa pública. “Nem todas as
universidades aderiram, mas 23 já e estão tendo problemas. A Ebserth foi
vendida como algo que iria contratar pessoal e não está fazendo isso. E esta é
uma luta que nós continuaremos ao longo deste ano, para tentar impedir que novas
instituições adiram à Ebserth e reverter a adesão das que já o fizeram”,
acrescenta.
Por: Najla Passos
Fonte Carta Maior