Reunidos em Marabá, no Pará, cerca de 170 militantes
de organizações sociais camponesas, de várias partes do mundo, fazem memória
dos 20 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás e discutem a conjuntura
política e agrária mundial.
Cristiane
Passos*
“Aqui, essa terra, é palco de latifúndio, que concentra
terra para o monocultivo. É uma região que impede a viabilização da reforma
agrária para garantir os projetos minerários e monocultores”, disse Ayala,
representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ao dar as
boas vindas aos participantes.
Marina Santos, da direção nacional do MST, falou ao grupo
da importância da realização desta Conferência no Pará, no marco dos 20 anos do
Massacre e, também, nesse momento conturbado da política brasileira.
Neuri Rosseto, da direção nacional do MST, fez uma
análise de conjuntura sobre a situação política do Brasil e suas consequências
para as lutas por terra, territórios e recursos. Segundo ele, a complexidade do
momento que vivemos é, também, resultado das lutas das classes trabalhadoras.
Esse seria um processo de reação da oposição diante das conquistas que a classe
trabalhadora obteve nos últimos anos. “Não podemos ver esse momento somente a
partir de uma perspectiva negativa”.
A conjuntura mundial atual, segundo Rosseto, ainda é
resultado de uma grande derrota da classe trabalhadora. “Nós ainda sofremos as
consequências das transformações após a queda do bloco socialista”. A
reestruturação do mundo do capital, após a dissolução da União Soviética,
influenciou muito na realidade dos trabalhadores.
De uns anos para cá, vimos também o descenso da luta dos
trabalhadores, disse o dirigente. A ofensiva do capital tenta derrubar as
principais bandeiras das lutas sociais, desde a luta pela terra à luta pela
garantia da preservação do meio ambiente. “É uma repressão preventiva a
qualquer alternativa à sociedade burguesa”, destacou Rosseto.
Lula foi eleito no contexto de uma crise do modelo
neoliberal. A vitória dele veio em um momento de alianças políticas, que tentou
aliar os interesses da classe trabalhadora ao capital. Mas há limites nessa
aliança, nessa tentativa de conciliação de classes. “Diante desse cenário,
ficou claro que não havia a previsão de mudanças estruturais, mantendo, assim,
intocável o latifúndio, por exemplo. A presidenta Dilma assumiu em um cenário
diferente de Lula. Ela assumiu no contexto da crise mundial do capital, que não
recua desde 2008, e ainda no contexto da crise desse modelo
neodesenvolvimentista que o Lula implantou”, concluiu Neuri.
“Tempo
de recompor forças”
O dirigente do MST destacou a importância de construir
uma frente ampla das classes populares, como se está fazendo na Frente Brasil
Popular, como forma de tentar novas formas de organização e de luta, na
perspectiva da construção de um projeto popular para o país. Além disso, é
importante retomar a formação política e ideológica da classe trabalhadora e
construir uma dimensão política que contemple os desafios da conjuntura atual.
“De qualquer forma, o cenário que se apresenta do futuro é de crise, qualquer
que seja o resultado. A nossa tarefa, portanto, é luta e mobilização, seja qual
for o governo que fique. Vamos defender esse governo, mas vamos também exigir
mudanças na política que está aí”, concluiu Rosseto.
*Assessora
de Comunicação da Comissão Pastoral da Terra
(CPT) – coletivo de comunicação da
Conferência Internacional da Reforma Agrária