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quinta-feira, 14 de abril de 2016

Conferência Internacional da Reforma Agrária

Reunidos em Marabá, no Pará, cerca de 170 militantes de organizações sociais camponesas, de várias partes do mundo, fazem memória dos 20 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás e discutem a conjuntura política e agrária mundial. 
Cristiane Passos* 

 Teve início hoje (13) e segue até o dia 17 de abril, a Conferência Internacional da Reforma Agrária, no Centro Pastoral Diocesano de Marabá, no Pará. O evento foi aberto com uma mística que relembrou os 20 trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra mortos em 17 de abril de 1996, na Curva do S, em Eldorado dos Carajás (PA).
“Aqui, essa terra, é palco de latifúndio, que concentra terra para o monocultivo. É uma região que impede a viabilização da reforma agrária para garantir os projetos minerários e monocultores”, disse Ayala, representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ao dar as boas vindas aos participantes.
Marina Santos, da direção nacional do MST, falou ao grupo da importância da realização desta Conferência no Pará, no marco dos 20 anos do Massacre e, também, nesse momento conturbado da política brasileira.
Neuri Rosseto, da direção nacional do MST, fez uma análise de conjuntura sobre a situação política do Brasil e suas consequências para as lutas por terra, territórios e recursos. Segundo ele, a complexidade do momento que vivemos é, também, resultado das lutas das classes trabalhadoras. Esse seria um processo de reação da oposição diante das conquistas que a classe trabalhadora obteve nos últimos anos. “Não podemos ver esse momento somente a partir de uma perspectiva negativa”.
A conjuntura mundial atual, segundo Rosseto, ainda é resultado de uma grande derrota da classe trabalhadora. “Nós ainda sofremos as consequências das transformações após a queda do bloco socialista”. A reestruturação do mundo do capital, após a dissolução da União Soviética, influenciou muito na realidade dos trabalhadores.
De uns anos para cá, vimos também o descenso da luta dos trabalhadores, disse o dirigente.  A ofensiva do capital tenta derrubar as principais bandeiras das lutas sociais, desde a luta pela terra à luta pela garantia da preservação do meio ambiente. “É uma repressão preventiva a qualquer alternativa à sociedade burguesa”, destacou Rosseto.
Lula foi eleito no contexto de uma crise do modelo neoliberal. A vitória dele veio em um momento de alianças políticas, que tentou aliar os interesses da classe trabalhadora ao capital. Mas há limites nessa aliança, nessa tentativa de conciliação de classes. “Diante desse cenário, ficou claro que não havia a previsão de mudanças estruturais, mantendo, assim, intocável o latifúndio, por exemplo. A presidenta Dilma assumiu em um cenário diferente de Lula. Ela assumiu no contexto da crise mundial do capital, que não recua desde 2008, e ainda no contexto da crise desse modelo neodesenvolvimentista que o Lula implantou”, concluiu Neuri.
 “Tempo de recompor forças”
O dirigente do MST destacou a importância de construir uma frente ampla das classes populares, como se está fazendo na Frente Brasil Popular, como forma de tentar novas formas de organização e de luta, na perspectiva da construção de um projeto popular para o país. Além disso, é importante retomar a formação política e ideológica da classe trabalhadora e construir uma dimensão política que contemple os desafios da conjuntura atual. “De qualquer forma, o cenário que se apresenta do futuro é de crise, qualquer que seja o resultado. A nossa tarefa, portanto, é luta e mobilização, seja qual for o governo que fique. Vamos defender esse governo, mas vamos também exigir mudanças na política que está aí”, concluiu Rosseto.

*Assessora de Comunicação da Comissão Pastoral da Terra 
(CPT) – coletivo de comunicação da Conferência Internacional da Reforma Agrária

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