“Me manter longe do Brasil era um grande
negócio para a Globo”, afirmou a jornalista ao contar, para o Diário do Centro
do Mundo, sobre o almoço com Luis Eduardo Magalhães que, junto a um
representante da Globo, havia a recomendado a não voltar ao Brasil por conta da
reeleição de FHC. “Minha imagem na TV era propaganda subliminar contra Fernando
Henrique e isso prejudicaria o projeto”. Acordo para manter Mirian longe
envolveria até financiamentos do BNDES à emissora.
Depois de quebrar o silêncio em entrevista a revista Brazil
com Z, a
ex-jornalista da TV Globo, que teve um caso extraconjugal com o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, vem trazendo à tona uma série de escândalos que
envolvem o tucano e a emissora que trabalhava. Em entrevista a Joaquim de
Carvalho, do Diário
do Centro do Mundo, Mirian Dutra revelou detalhes de como funcionou
o acordo entre a Globo e FHC para que ela se mantivesse longe do país como uma
forma de não atrapalhar no projeto de reeleição do sociólogo (Anos antes, a
jornalista havia tido um filho que dizia ser do ex-presidente, mas foi forçada
por ele a dizer em entrevista que estava grávida, na verdade, de um biólogo).
De acordo com Mirian, que depois do nascimento do filho
fez um ‘autoexílio’ na Europa (recebendo 3 mil dólares mensais de FHC por
intermédio da empresa Brasif), seus planos de voltar ao Brasil foram frustrados
por um almoço marcado por Luis Eduardo Magalhães que, na época, era amigo de
FHC e líder do governo no Congresso.
“Foi quando entendi que eu deveria viver numa espécie
clandestinidade. Se eu voltasse, não seria bem recebida e as portas se
fechariam para mim”, afirmou, revelando ainda que, então, decidiu comprar um
apartamento em Barcelona, na Espanha, onde passou a receber R$18 mil como
contratada da emissora, mas sem trabalhar e muito menos aparecer no vídeo, como
era comum antes da gravidez.
“Me manter longe do Brasil era um grande negócio para a
Globo. Minha imagem na TV era propaganda subliminar contra Fernando Henrique e
isso prejudicaria o projeto da reeleição”, disse.
De acordo com Mirian, os planos da Globo e de FHC de
deixá-la longe não ficaram só na conversa. Um representante da Globo estaria
presente no mesmo almoço e, como compensação por manter a jornalista na
geladeira, FHC teria usado o BNDES para dar a Globo financiamentos a juro
baixo.
“E não foram poucos”, ressaltou.
Preocupada com as revelações, a Globo teria ainda
entrado, recentemente, em contato com Mirian para perguntar quem era o
representante da Globo no almoço que mencionou.
“Sabe o que respondi para ele? Você acha que eu vou
contar para você? Acho que o microfone estava aberto e, se eu conheço a Globo,
o Ali Kamel (diretor de jornalismo) estava ouvindo a conversa. O Boni disse:
mas a Globo sempre foi muito correta com você. Disse que ele era cínico e falei
outras coisas pesadas. Fui bem malcriada, e desliguei o telefone. A secretária
do Boni me ligou várias vezes, e eu não atendi”, contou.
Horas depois, o ‘Jornal Hoje’, da Globo, repercutiu a
entrevista que Mirian deu à Folha de S. Paulo na semana passada e, no final, o
apresentador leu a seguinte nota:“Durante os anos em que colaborou com a TV
Globo, Miriam Dutra sempre cumpriu suas tarefas com competência e
profissionalismo.”.
“Quando vi, pensei que eu tivesse morrido. Elogio assim
só em obituário. Mas sei qual é a intenção deles: me calar com elogio fácil”,
ironizou a jornalista. “Está na hora de quebrar a blindagem desse pessoal”.
Confira aqui a íntegra da conversa com o DCM.