Talvez você nunca tenha conhecido a trajetória de sequer
uma mulher negra na história do Brasil.
Mesmo na escola,
nas aulas sobre o período da colonização e da escravidão, é provável que você
não tenha lido ou ouvido falar sobre nenhuma líder quilombola, nem mesmo sobre
líderes que foram tão importantes para comunidades enormes.
Essa ausência de
conhecimento é um problema profundo no Brasil. Infelizmente, na escola não
temos acesso a nomes como o de Tereza de Benguela, por exemplo, que recentemente se tornou
símbolo nacional, quando o dia 25 de Julho foi oficializado como o Dia de Tereza de Benguela. Ainda assim, há
grandes chances de que essa seja a primeira vez em que esse nome lhe salta aos
olhos.
Para conhecer as
histórias de luta dessas mulheres, é preciso mergulhar em uma pesquisa pessoal,
que antes de tudo precisa ser instigada. Mas se as escolas e Universidades nem
mesmo mencionam a existência de mulheres negras que concretizaram grandes
feitos no Brasil, como a curiosidade das pessoas será despertada?
Na prática, as
consequências dessa ignorância são muito graves. Não aprendemos que
mulheres negras foram capazes de conquistas admiráveis ou que lutaram
bravamente, até mesmo em guerras contra a escravidão, e crescemos acreditando
na ideia de que as mulheres negras nunca fizeram nada de grandioso e nem
marcaram o país como outros grupos de pessoas. A tendência de muita gente é
associar a bravura, a inteligência e a estratégia somente a figuras masculinas,
sobretudo aos homens brancos, que são notavelmente mais registrados, memorados
e citados em aulas de História.
Com essa falta de
referências a mulheres negras, muito racismo continua a ser perpetuado. Mas
como podemos reparar os imensos estragos causados por essa omissão? Neste
início de ano, como parte de uma tentativa de espalhar informação sobre as
histórias de grandes mulheres negras, lancei mais cordéis
biográficos que contam suas
trajetórias e conquistas. Em sala de aula ou passando de mão em mão, a
Literatura de Cordel pode servir como um rico material para que essas histórias
sejam repassadas e discutidas.
Nos novos cordéis,
é possível conhecer Zeferina,
líder do quilombo de Urubu, Anastácia, uma escrava que até hoje é cultuada como santa, Maria
Felipa, que foi líder nas batalhas pela
independência da Bahia, e Antonieta de Barros, a primeira deputada negra do Brasil. Passo a
passo, grandes injustiças históricas podem ser eliminadas, trazendo à tona a
memória de guerreiras e mulheres negras brilhantes que foram de enorme
importância para o Brasil.
Por: Jarid Arraes
CEERT- Centro de Estudos das Relações de Trabalho e desigualdades
http://www.ceert.org.br/