Velho Chico definha a olhos vistos. Agora os que se beneficiam do rio começam sentir na pele o resultado do processo destrutivo.
O
óbvio se confirma. As principais atividades econômicas do rio São Francisco
começam a entrar em decadência, em razão da diminuição do volume de água do
Velho Chico. Hoje o ponto com mais água está aqui entre Juazeiro e Petrolina,
com 1.000 m3/s. Vale lembrar que a vazão média do São Francisco até alguns anos
atrás era de 2.800 m3/s. Sobradinho está com apenas 17% de sua capacidade
ocupada por água.
Não
estamos falando da pesca, da agricultura de vazante, nenhuma dessas economias
das populações tradicionais. Essas estão extintas ou fragilizadas há muitos
anos. Falamos da economia do capital.
A
geração de energia começa declinar. Nesse momento apenas uma de seis turbinas
está gerando energia em Sobradinho. Construído mais para servir de caixa d’água
para as barragens à jusante que para gerar energia, foi aproveitada de última
hora no regime militar para também gerar. Num debate na Companhia de
Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF) na semana da água, os
técnicos avisaram que a única turbina em funcionamento vai parar até final de
junho ou início de julho.
Segundo,
foi avisado que em final de julho e começo de agosto vários projetos de
irrigação da região poderão ter seu acesso à água cortado. Os dois mais
ameaçados são o Nilo Coelho – margem esquerda, Petrolina – e o Maniçoba na
margem direita, em Juazeiro. Em ambos a distância da água será tão grande que
sua captação será inviabilizada.
Acontece
que Juazeiro/Petrolina montaram sua economia baseada na irrigação. São as
fazendas irrigadas, que demandam água, insumos, implementos, mão de obra, que
por sua vez movimentam o comércio de alimentos, eletrodomésticos, construção
civil, carros, bares, restaurantes, assim toda cadeia produtiva.
Em
breve pode acontecer com Juazeiro/Petrolina o que Monteiro Lobato chamou de
“Cidades Mortas” no Vale do Paraíba depois que o ciclo do café se encerrou e
deixou para trás cidades fantasmas economicamente mortas. Toda economia baseada
em um único ramo produtivo acaba por ter esse final trágico.
Por
fim, o que era para ser uma hidrovia – vocação natural do Velho Chico entre
Juazeiro e Pirapora – hoje não passa de um filete de água com a população
atravessando à pé seu leito, como é o caso entre comunidades de Pilão Arcado e
Xique-Xique. Nem barcos menores conseguem mais navegar com facilidade. A ideia
de transportar a soja do Oeste Baiano para Juazeiro ou Petrolina via rio hoje
não passa de um delírio.
Mesmo
assim vários projetos de expansão da água do São Francisco continuam na agenda,
como a Transposição de Águas para outros estados no Nordeste, o Canal do Sertão
em Petrolina, o Baixio do Irecê na Bahia, assim por diante.
Que
a equação não fecha todos sabem. Enquanto isso, o Velho Chico definha a olhos
vistos. Agora os que se beneficiam do rio – setor elétrico, irrigação, agro e
hidro negócios, etc. – começam sentir na pele o resultado do processo
destrutivo. O futuro dessas atividades econômicas está atrelado inexoravelmente
ao futuro do rio. Aliás, como de toda população do Vale.
Essa
decadência não é pontual. Há mais de dez anos, desde o apagão, o São Francisco
não mais recuperou grandes volumes de água. Portanto, o raciocínio correto é
que essa é a nova realidade, a exceção será alguma cheia.
Aqui
em Juazeiro/Petrolina os irrigantes estão apavorados e não é sem razão. Porém,
nada indica que se queira rever a fundo o modelo econômico predador imposto ao
velho rio.
Por: Roberto Malvezzi (Gogó)
Photoshp: Cocero Do Carmo
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