É a
primeira vez na história da Igreja que um papa convoca líderes de movimentos
sociais para um encontro de três dias, e não uma simples audiência protocolar,
como a que monitorei em 1980, em São Paulo, ao levar um grupo de sindicalistas,
entre os quais Lula e Olívio Dutra, para um encontro com João Paulo II, na
capela do colégio Santo Américo.
25/09/2014
Por Frei
Betto
Líderes
de movimentos populares de vários países terão encontro com o papa
Francisco nos próximos dias 27, 28 e 29 de outubro, em Roma. Do Brasil estarão
presentes João Pedro Stédile, pelo MST e Via Campesina, e representantes da
Central de Movimentos Populares, Levante Popular da Juventude, Coordenação
Nacional de Entidades Negras, Central Única dos Trabalhadores, Movimento
de Mulheres Camponesas e um indígena do povo Terena.
A carta
convite é assinada por Stédile e por Juan Grabois, que representa o Movimento
dos Trabalhadores Excluídos e a Confederação de Trabalhadores da Economia
Popular, da Argentina.
O evento
é um desdobramento do simpósio As emergências dos excluídos,
realizado em dezembro de 2013, no Vaticano, do qual Stédile e Grabois
participaram.
Denominado Encontro
Mundial de Movimentos Populares, contará ainda com a participação de 30
bispos, “de distintas regiões, que mantêm fortes vínculos com o trabalho social
e os movimentos populares.”
O evento
resulta da articulação do Conselho Pontifício de Justiça e Paz, presidido pelo
cardeal ganês Peter Turkson, com diversas organizações populares. Tem como
objetivos partilhar o pensamento social de Francisco; elaborar uma síntese da
visão dos movimentos populares em torno das causas da crescente desigualdade
social e do aumento da exclusão no mundo; refletir sobre as práticas
organizativas dos movimentos populares; propor alternativas populares para
“enfrentar os problemas que o capitalismo financeiro e as transnacionais impõem
aos pobres, com a perspectiva de construir uma sociedade global com justiça social,
a partir da realidade dos trabalhadores excluídos”, frisa o convite. Enfim,
“discutir a relação dos movimentos populares com a Igreja e como avançar nesse
sentido.”
Quando recebi o convite, não acreditei.
O Papa Francisco convidou lideranças de várias partes do mundo para participar de um encontro com ele. Para ouvir.
Entre os dias 27 e 29 de outubro acontece o Encontro Mundial dos Movimentos Sociais.
Do Brasil, participaram as seguintes lideranças: Eduardo Cardoso (Central de Movimentos Populares - SP), Paola Strada (Coordenação Nacional do Plebiscito Constituinte e Alba), Flávio Silva (Coordenação Nacional de Entidades Negras - SP), Rita Zanotto (Via Campesina Sudamérica), Kenarik Beijikian (Associação de Juizes pela Democracia), Rodrigo (Levante Popular da Juventude - RS), Rosangela Piovizani (Movimento de Mulheres Camponesas/Via Campesina - RS) Ranulfo (C.e.p.i.s - SP), João Pedro Stedile (MST/Via Campesina) e eu.
Do mundo participam 90 pessoas, de mais de 40 países.
Antes o Papa chamava os donos do capital para debater conjuntura. Este Papa chamou os movimentos sociais.
Nada mais oportuno diante da conjuntura nacional que enfrentaremos no próximo período.
Cada convidado pôde trazer para o Papa os símbolos da sua luta. Eu trouxe o boné da CUT por todas as marchas e lutas que fizemos, o livro dos 35 anos do Sind-UTE , artesanato do projeto Jaíba e Vale do Jequitinhonha.
Na manhã desta terça, o Papa pessoalmente veio nos escutar sobre terra, trabalho, vida, meio ambiente e conflitos e a relação de tudo isso com as lutas sociais.
Agora o Papa sabe das nossas lutas.
No período da tarde Evo Morales, presidente da Bolívia, participou debatendo sobre o Estado e os movimentos sociais. Ele nos contou como subverteu a ordem elitista da Bolivia: os indígenas não serviam apenas para votar. Servem também para governar e governam a serviço do povo. Segundo Beatriz.
Fonte: Brasil de Fato
Foto : Beatriz Cerqueira- facebook.
Adaptado por: Cicero Do Carmo